sexta-feira, 24 de junho de 2011

Redenção mineira

Há 45 anos, as divisas de Minas se abriam para o Cruzeiro, com a conquista da competição nacional, oficializada no ano passado pela CBF como título brasileiro

Taça Brasil de 1966 descentralizou o futebol brasileiro e inseriu o Cruzeiro no cenário nacional e mundial. Disputada em modelo parecido ao da atual Copa do Brasil, a competição ficou marcada por duas memoráveis vitórias celestes sobre o quase imbatível Santos de Pelé, Pepe, Zito, Edu, Dorval e Gilmar. Triunfos que deram o título à equipe mineira e revelou nomes como Tostão, Dirceu Lopes, Natal, Raul e Piazza.

Até então, o Cruzeiro conhecia apenas os gramados de Minas e ainda lutava contra equipes como o Siderúrgica, de Sabará, para se firmar como grande força no estado. Nem sequer tinha centro de treinamento ou algo parecido com a atual elogiada estrutura. A realidade do time e do próprio futebol mineiro começara a mudar em 1965, com a inauguração do então moderno Mineirão.
Antes do estádio da Pampulha, o Cruzeiro treinava e mandava seus jogos no acanhado campo do Barro Preto, Região Centro-Sul de Belo Horizonte. O local hoje é um dos dois clubes de lazer da Raposa. “O profissionalismo no futebol só existia de direito, não de fato. Não havia um preparo físico adequado nem salários definidos. O treinador fazia de tudo, alguns até o papel de roupeiro. O jogador sofria enorme preconceito da sociedade. Muitas vezes com razão, pois prevalecia a boemia”, recorda Piazza, volante e capitão daquele Cruzeiro.

Zagueiro titular da Seleção Brasileira tricampeã do mundo em 1970, Piazza dividia as atividades de bancário com as de jogador de futebol até o início da competição que mudou a história do clube. “A Taça Brasil era a primeira competição interestadual do Cruzeiro, por isso íamos ter de treinar e viajar mais. O banco não tolerava tantas faltas ao trabalho e me demiti”, lembra. Então com 23 anos, temia o futuro. “À época, clube de futebol se mantinha com bilheteria e amistosos. O Cruzeiro ainda não arrecadava tanto.”

Daí a importância da construção do Mineirão e da conquista de 1966. Com capacidade acima de 100 mil pessoas, o gigante da Pampulha substituía o Independência, até então maior estádio de Minas, construído para a Copa de 1950, para até 25 mil pessoas. Com o título nacional e, principalmente, as duas vitórias sobre o Santos na decisão, a Raposa ganhou vaga na Copa Libertadores do ano seguinte e inúmeros convites para amistosos no Brasil e no exterior.